25 novembro, 2006

Questionamentos

Penso muito sobre o que representa eu estar aqui. Pessoalmente, é fruto de necessidades existenciais, profissionais, e até de conforto, gosto e entretenimento -- não sei os adjetivos pra esses três últimos.

Ao mesmo tempo, mudar de ambiente faz colocar tudo em perspectiva, inclusive os aspectos da minha personalidade que me fizeram vir para cá.

É muito bom estar concretizando meu desejo de estar aqui e satisfazendo meus anseios. Ao mesmo tempo, o atraso relativo do Brasil em milhões de pontos -- e que são em parte os motivos porque saí -- me obrigam a pensar.

Fico questionando minha responsabilidade com meu país. Fico em dúvida se meu papel deve ser (também) trabalhar diretamente em prol do Brasil. Será que devo alguma coisas a ele? Às necessidades de lá (aí)?

É inevitável pensar nisso. E creio que é um paradoxo que muitos de nós brasileiros guardamos dentro de nós, uma espécie de culpa. Estou generalizando dessa forma porque já conversei com muita gente e já percebi as mesmas questões, inclusive com o que estão aqui (Martin é um deles).

Me parece que existem dois caminhos básicos: se isentar de atuar no contexto brasileiro e buscar outros locais para se fixar e produzir, ou permanecer. Nem todos têm essas duas opções na realidade, mas é fato que a maioria gostaria de ter para poder optar pela primeira.

Muitos europeus com quem conversei tiveram a mesma iniciativa que eu -- ainda mais com as possibilidades de mobilidade da União Européia. Mas a diferença básica é que seus países estão arrumados minimamente. Tudo bem que se não estivessem arrumados, as pessoas sairiam mesmo assim -- como fez meu avô português quando Portugal, Itália e Espanha eram terrivelmente pobres.

Esses pensamentos não me paralisam. Pelo contrário. Enquanto me movimento, vou acumulando dados que me ajudam a formular respostas. Mas é um processo meio doloroso intelectualmente e emocionalmente até, porque abala vários pontos da minha personalidade.